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21/12/2012

Guia-espetáculo, da Catamaran Tours, resgata memória de Recife


Passeio noturno pelas águas do rio Capiberibe é uma verdadeira aula de história passada e recente
Recife - Que os destinos nacionais sempre surpreendem com sua riqueza cultural, étnica e social não existe mais dúvida. A questão é saber como esses lugares são interpretados, traduzidos e explicados por profissionais que trabalham com isso. Os guias de turismo, os professores, os historiadores, são profissões que requerem talento, senso crítico, ética e estudo contínuo. É essa síntese de preparo humano e de profundidade de conteúdo que ressuscita a história escondida nos museus, nos livros e nos monumentos das cidades. Guias de turismo como Baruque Bernardo, que atua no Catamaran Tours em Recife, fazem jus à profissão que têm e doam aos turistas fragmentos da vida pernambucana que viraram fumaça, se perderam no tempo; colheita de uma miopia coletiva que tem sementes na pressa e na superficialidade modernas.

Teatro Santa Isabel, às margens do Rio Capiberibe
Remanescente do mangue
Recife se sobrepõe por sua natureza arquitetônica e história mais antiga – a colonização holandesa presente nas construções, por exemplo – e por ser canteiro de grandes mentes que ajudaram na construção da identidade nacional – Gilberto Freyre, o grande antropólogo e Paulo Freire, o educador que revolucionou escolas brasileiras com sua pedagogia crítica. Esses ventos de conhecimento espalharam sementes férteis nos manguezais de Pernambuco. O guia Baruque é um remanescente desse mangue.

“A ilha do Recife era um istmo que vinha de Olinda, a capital da Província , e ex-capital de Pernambuco entre 1535 e 1827. Aliamos, além da história e da paisagem, todo esse contexto diferenciado pela Catamaran Tours em uma maneira de ver a capital pernambucana, a partir dos rios de Recife”, afirma Baruque, dando início a sua metralhadora giratória de nomes, obras, datas e expressões pernambucanas.

O passeio, de aproximadamente uma hora, consiste em navegar pela Bacia do Pina, onde se encontra o Cais das Cinco Pontas, saída do catamarã, percorrer parte na bacia portuária e entrar no rio Capiberibe com suas pontes centenárias: a 12 de setembro (antiga ponte giratória que subia para a passagem de embarcações), a ponte Maurício de Nassau (a primeira do Brasil), a ponte Buarque de Macedo, a ponte Santa Izabel (a abolicionista), aponte Duarte Coelho (a do Galo da Madrugada) e a ponte da Boa Vista (a ponte de ferro). O passeio é embalado por sucessos de cantores e compositores da terra como Alceu Valença, Lenine e Chico Science, esse último expoente do mangue beat, movimento musical genuinamente pernambucano.

Passagem sob as pontes dá um charme ainda mais especial ao passeio
Sotaque e modernidade
A capitania de Pernambuco prosperou a partir do século XVII em função da produção de cana-de-açúcar e encontrou sua glória econômica e cultural com a chegada dos holandeses. Essa informação, resgatada dos livros de história é repaginada com um sotaque nordestino e de modernidade: “À esquerda as duas grandes torres residenciais chamadas Duarte Coelho e João Maurício de Nassau, que fazem alusão ao primeiro governador português e ao primeiro donatário da capitania de Pernambuco, respectivamente”, diz o professor-guia, apontando para os dois grandes edifícios de 40 andares cada um que se sobressaem à margem do rio.

Pedras dos Reinos
“À nossa proa, o antigo palácio alfandegário, originalmente um convento e a igreja da madre de Deus. No paço, hoje transformado em shopping, cada entrada terá um mosaico com as peças do escritor Ariano Suassuna, paraibano, mas já integrado a Pernambuco”,explica o guia e enumera, de cabeça, as obras do autor: “ A Mulher Vestida de Sol, o Auto da Compadecida, a Rainha do Meio Dia e a Pedra do Reino” .

Baruque Bernardo iça a memória contida nos livros de história
Nassau
O catamarã passa sob as pontes e em cada uma delas os passageiros, incitados pelo guia, fazem reverência aos personagens da história. “Essa parte de Recife era a área boêmia e essa ponte é a primeira ponte do Brasil, construída por João Maurício de Nassau”, ensina e acrescenta: “O holandês Nassau decidiu transformar Recife em uma moderna capital. Entre várias ações engenhou o projeto da cidade Maurícia, um projeto urbanístico responsável pelos atuais traçados dos bairros de Santo Antônio e São José (centro antigo da atual Recife), onde drenou terrenos, construiu canais, diques, pontes e palácios, entre eles o Palácio de Friburgo e da Boa Vista, os jardins botânico e o zoológico, um museu natural e um observatório astronômico”, enumerou.

Café com Bandeira
Além de Ariano Suassuna, nomes como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, quasares da literatura brasileira e pernambucana, são contextualizados pelo guia, inserindo o turista em uma história recente aprendida nos bancos de escola. “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do Rei”, aponta o guia para a estátua de Manuel Bandeira à margem do rio e acrescenta: “Este poeta maior, sentado ali placidamente, morou ali atrás, na rua da União”. Fala com a naturalidade de quem tomou um café da tarde com o imortal.

Rua da Aurora e os seus casarios: protegidos por lei estadual para a preservação do patrimônio
Luto
O guia é tão versátil e plural que não deixou de lembrar aos turistas de uma perda para a história e turismo religioso de Pernambuco. No mesmo dia do passeio, sexta-feira (20), morrera Dina Mendonça Pacheco, esposa de Plínio Pacheco, idealizador do espetáculo em Nova Jerusalém, A Paixão de Cristo. “Gostaria de lembrar aqui do papel fundamental que foi para o turismo e para a cultura de Pernambuco, esse gaúcho, jornalista, que teve como âncora, essa grande mulher, que faleceu hoje”, lamentou.

A Batalha dos Guararapes,
 óleo sobre tela de Victor Meirelles de Lima
Leões do Norte
Em uma época em que não se ouve mais notícias sobre atos heroicos e revoluções a favor da pátria, soa muito bem aprender (e relembrar) um pouco mais da história de Pernambuco. No embate entre portugueses e holandeses pelas terras brasileiras, Baruque destaca a ‘bravura indômita’ do pernambucano, quando de sua insurreição diante da presença dos holandeses, conhecida como a Batalha dos Guararapes. “É justamente nesse período, compreendido entre 1645 a 1649 que se dá a vitória contra os holandeses. E é aí nas Guararapes – aponta para a rua dos Guararapes, no centro da velha Recife- que nasce a nossa brasilidade, nasce o epíteto que nós pernambucanos temos de Leões do Norte.”

O papel do guia de turismo é justamente este – muito bem traduzido por este profissional chamado Baruque Bernardo: içar do fundo do poço da história pessoal de cada um essa água límpida, esse peixe ainda vivo, esse caranguejo de mangue, esse adubo fértil que chamamos de memória.

Serviço:
Catamaran Tours  –  Passeio de barco pelo rio Capiberibe
Embarque: Cais das Cinco Pontas – avenida Sul, 50 metros após o Forte das Cinco Pontas.
Reservas:(81) 3424-2845 – (81) 9973-4077      
www.catamarantours.com.br

Retirado: http://www.diariodoturismo.com.br/18_64_35_42_15_,guiaespetaculo-da-catamaran-tours-resgata-memoria-de-recife.html

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