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02/10/2012

Um país pobre que pensa que é rico


Há uma epidemia de consumo na classe média brasileira cujo alastramento, em breve, poderá cobrar a conta.

Todo mundo sabe que o Brasil é um dos países mais caros do mundo. E mesmo assim todos continuam consumindo e muito. Da cerveja à roupa, do eletrônico ao automóvel, tudo custa mais caro neste país.

O turismo é um dos sintomas da doença do consumo acometida pela classe média brasileira. Segundo os indicadores do Banco Central, os turistas brasileiros gastaram, de janeiro a agosto, quase US$ 15 bilhões em viagem ao exterior. Somente em agosto foram gastos US$ 1.923 bilhão.

Já os estrangeiros em visita ao Brasil deixaram por aqui US$ 4,559 bilhões nos oito meses de 2012.

Com esses resultados das despesas de brasileiros no exterior e das receitas de estrangeiro no Brasil, o saldo na conta de viagens internacionais ficou negativo em US$ 10,076 bilhões, de janeiro a agosto. A projeção do BC para o resultado negativo neste ano passou de US$ 13 bilhões para US$ 13,5 bilhões.

Em Nova York e Miami, quando se vê na rua alguém pendurado de sacolas nas mãos, pode saber: é brasileiro.

Quando não está gastando em viagens, a classe média, acometida da epidemia do consumo, freneticamente, paga tudo mais caro aqui.

Sintoma de pobreza cultural, o consumidor brasileiro é prisioneiro da imagem e do “status”, do “eu posso”. Ou ele vai para Miami trazer muambas ou compra, aqui mesmo, as mercadorias mais caras, para que os outros saibam que ele pode comprar, mesmo se tratando de mercadoria comum, desde que tenha uma griffe. Então, ele sai desfilando com sua calça Diesel, seu carro importado, pelo qual pagou muito mais do que o preço que a mesma montadora vende em outros países. Mas ostenta: “eu posso pagar mais caro”.

A versão mais difundida das causas do alto custo de tudo por aqui é o que os especialistas chamam de “custo Brasil”, que envolve alta carga tributária, burocracia e infraestrutura carente. Mas não é só isso.

Recentemente, uma reportagem que comentava um relatório da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrava que o Brasil tem a mesma carga tributária dos países ricos. Houve casos em que a carga tributária no Brasil até diminuiu, como no caso dos automóveis. E lá fora são vendidos bem mais baratos os mesmos produtos que compramos aqui “pelos olhos da cara”. 

Quase metade do valor de um carro (40%) vai para o governo na forma de tributos. Nos EUA são 20%. Na China também. Na Argentina, 24%. E acontece o mesmo com outros produtos. Enquanto na maioria dos países o normal é ter um imposto específico para o consumo, aqui são 6 - IPI, ICMS, ISS, Cide, IOF, Cofins.

Enquanto as montadoras, importadoras e apoveitadoras, estiverem navegando nas águas tranquilas do alto lucro sem lei e a classe média brasileira se mantiver nesta incurável epidemia do consumo, a equação não fechará.

 Afinal, somos um pobre país que pensa que é rico.

Paulo Queiroga*

Retirado: http://www.diariodoturismo.com.br/18_56_21_48_35_,um-pais-pobre-que-pensa-que-e-rico.html

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